De algum tempo para cá, nos acostumamos a ouvir que, nesses dias em que vivemos, “as pessoas são o que tem”. Repetido à exaustão, o comentário banalizou-se, passou a ser usual, e não causa mais impacto.
Então, somos o que temos?? Ou, por vezes, o que aparentamos ter? O que isto quer dizer mesmo? De forma muito resumida, isto significa que não importam mais nosso caráter, nossos valores, nossos atos e sim o que podemos comprar. De acordo com a atual sociedade de consumo em que vivemos, nosso valor pessoal reside, basicamente, naquilo que possuímos ou fazemos crer que possuímos.
Esta lógica, que abalou toda a estrutura da sociedade atual, avançou continuamente, sem que nos déssemos conta. Devagar e sempre, e cada vez mais.
Assim, as crianças pedem aos pais mais e mais coisas: dizem-se inferiorizadas e humilhadas perante os amigos que já possuem os objetos de consumo da vez. Os pais, confusos, sentem-se muitas vezes humilhados também, caso não possam atender às demandas dos filhos. O que acontece aqui? Por que os pais não se lembram de nossos valores mais antigos na hora de transmiti-los?
A questão é que os pais também perderam o hábito de pensar com independência, já que é mais fácil acompanhar a maioria e embarcar na onda do momento. Não se dão conta do quanto estão sendo manipulados, de como suas necessidades estão sendo “criadas” o tempo todo, à semelhança do que acontece com seus filhos. “Todo mundo tem, todo mundo faz, como ficar de fora??”
Fica difícil passar valores consistentes para os filhos, se nós mesmos os esquecemos. Por outro lado, quando preservamos o hábito de “parar para pensar”, refletir sobre nossos hábitos, e se estamos, de fato, satisfeitos com o rumo de nossas vidas, é possível nos lembrarmos de quem somos de verdade. Aí fica fácil transmitir valores: atitudes coerentes com o que se diz, intimidade, conversas sinceras e explicativas, este é um conjunto de peso, que ensina aos filhos e estimula a reflexão.
É preciso resgatar nosso conjunto de valores, responsabilidades, posturas cidadãs e falar aos filhos de coração, com honestidade. Esta é a nossa oportunidade de contribuir para a formação de indivíduos com capacidade crítica. Mas atenção: se não for a nossa verdade, não vale a pena nem tentar. É a convicção, sempre, que traz força ao que dizemos.