Quando a sensação de inadequação está entre os sentimentos que experimentamos com mais frequência, a chance que temos de vir a desenvolver uma enorme capacidade de tentar agradar aos outros é garantida. O objetivo será sempre obter o reconhecimento de alguém, já que de nós mesmos não vem o mínimo. O pior é que, muitas vezes, o reconhecimento externo (o dos outros) até vem, mas não chegamos a registrá-lo, pois nessa condição de funcionamento mental, nosso pior crítico somos nós mesmos. Nosso senso de merecimento é praticamente nulo, ou seja, simplesmente não acreditamos que possamos ser reconhecidos, “pertencer” e ser amados.
Mesmo sem discriminar gêneros, a tal sensação de inadequação costuma se apresentar de forma diferente, entre homens e mulheres. Neles, a ordem interna é uma só: não ser visto como um fraco. Um homem vulnerável e amedrontado não consegue se aceitar em tal condição. A saída, então, passa a ser nem chegar a se conscientizar de seus próprios medos. Predomina uma percepção de mundo de forma meio difusa, desconfortável, ou mesmo angustiante, já que não lhe é possível discernir o que sente. Já nas mulheres, reinam absolutas as expectativas inatingíveis de ser ou fazer tudo de forma perfeita, ou nada. Sendo o nada sentido como “não sou nada, não tenho valor algum”.
Sentir-se inadequado ou com vergonha de si é uma vivência conhecida de todos os que tem alguma capacidade de experimentar empatia e auto crítica. Quando a pessoa tem uma tendência maior a se sentir assim, entretanto, o que existe é uma permanente sensação de que se tem uma espécie de “defeito de fabricação”, ou seja, “eu sou de má qualidade” e pronto. Nesse caso, somos um blefe, e a qualquer momento seremos “descobertos” pelo resto do mundo. E aí será nossa humilhação máxima, nosso fim…
Ao nos sentirmos inadequados, ou com uma persistente sensação de vergonha de nós mesmos, é como se convivêssemos em tempo integral com uma força opositora dentro de nós, que nos faz sentir como se nunca tivéssemos as mínimas condições para enfrentar qualquer desafio. A tal força estaria pronta para nos diminuir, toda vez que pensamos em tomar uma atitude: “ O que é isso?? Quem você pensa que é?? Aonde pensa que vai??” A atitude, vamos deixar claro, pode ser desde uma coisa bem simples, como emitir uma opinião durante uma conversa, até levar adiante uma ideia mais criativa.
A libertação desta forma de existir leva tempo e, em geral, um auxílio terapêutico se faz necessário em algum momento da vida. A boa notícia é que a “superação” é possível, e a estrutura psíquica, uma vez reestruturada e tornada sólida, pode diluir todo este quadro. Quando os nós psíquicos se desfazem, funcionamentos mentais se dissolvem por inteiro, tornando-se algo que fará parte de um passado tão longínquo, que nem parece que foi nesta mesma vida que aquilo aconteceu com a pessoa.
E aí vem o momento de se dizer: o melhor lugar para a vergonha? É no passado…